"Muito bem, o São João passou, o São Pedro também, ficou a lembrança, mas não custa nada esquentar o caldo. Vamos a ele.
Houve um tempo em que as festas de São João tinham sabor de milho verde, canjica, pamonha, quentão e, para temperar mais ainda a coisa, muito forró pé de serra. Os bailes aconteciam nos clubes sociais das cidades do interior, nas palhoças e em latadas cobertas de palhas. O chão batido das casas era molhado com água para acalmar a poeira e os dançarinos faziam o pinicado a noite inteira, até o dia clarear. Os grandes bailes contavam com as quadrilhas juninas, marcadas em francês e com os pares obedecendo o comando para fazerem o túnel, o anarriê e etc
Tempo de inocência, em que o povo saudava o santo da fogueira como forma de agradecer pelas chuvas vindas do céu, sinônimos de fartura e de decência para o homem do campo.
O tempo passou, veio a modernidade, a sabedoria dos governantes ficou mais saliente e agora a festa de São João virou show, um grande show, animado por bandas caríssimas, que cobram o olho da cara para se apresentar em praça pública. Ninguém dança mais, a quadrilha ficou restrita aos grupos de bairros que se descaracterizaram, ficando a cara das escolas de samba do Rio de Janeiro.
O mais grave, porém, é que com as mudanças veio também a safadeza. Alguns prefeitos inescrupulosos aproveitam a desculpa do São João para se tornarem empresários das grandes bandas, rachando com elas o cachê milionário pago com o dinheiro público. E tome dinheiro, e tome banda, e tome gente besta aplaudindo o edil, que finge dar diversão ao povo e, em vez disso, rouba o dinheiro desse povo. Não são todos, ressalto. Existem os honestos. Municipios com tradição de forró, com economia bastante para bancar a festa e receber turistas, são as exceções nesse caso.
Mas o leitor por acaso acredita que uma cidadezinha de merda, com menos de dois mil habitantes, sem renda e sem meios de sobrevivência, sem estrada para receber turista, sem atração nenhuma, com uma rua só, tipo aquela que o sujeito peida na entrada da cidade e sente a catinga na saída, tem condições de dançar forró ao som de Capim Cubano? Tem não, amigo. Ali o prefeito recebe a ajuda do Governo Federal ou Estadual, paga a parte do Capim e bota o resto do capim no bolso. É assim de ponta a ponta, de cabo a rabo. Ou será que alguém acha normal Prefeituras que vivem atoladas em dívidas, sem pagar em dia aos fornecedores, atrasando o duodécimo da Câmara, arrochando o salário do servidor, de repente apresentem bandas e mais bandas como atrações do São João de suas cidades? Só acha normal o idiota ou quem está roubando junto com o prefeito."
Por Tião Lucena
fonte: http://www.blogdotiaolucena.com.br/
Voz de pedra