terça-feira, 10 de abril de 2012


É preciso acreditar

Conheci um senhor de bem com a vida, nordestino, simples. Sr Manoel, vulgo Mané Damião.  Era generoso ao extremo.  Gostava de ter a casa cheia. Tratava a todos como seus amigos. Tinha uma propriedade de 27 hectares que comprara na década de cinquenta, junto com sua esposa com muito esforço, para sustento dos filhos. Não era muito apegado a bens materiais, tanto é que permitiu que seus irmãos  fossem residir em sua propriedade. Não havia cercas, nem muros, nem porteiras. As pessoas  carregavam frutas, como jaca, jabuticaba, manga sem a menor cerimônia, como se aquilo tudo fosse propriedade pública.
Era desligado das maldades e acreditava que todo mundo era um cidadão de bem. Recebia em sua mesa de refeição, com o que tinha para comer, junto com a família, os maltrapilhos que estivessem pelas redondezas. Conheci um, cujo apelido era “faceiro” que viveu ali por décadas sendo cuidado pelos filhos do Sr. Manoel, até morrer. A família o havia rejeitado porque bebia muito.
A propriedade localiza-se  numa área com muitas bananeiras, de onde se tira algum sustento, poucas casas, no interior da Paraíba, precisamente no Brejo Paraibano.
Certa vez, Sr.Manoel permitiu que um vizinho, morador de uma propriedade  vizinha, utilizasse um pedaço das suas terras para plantar e ajudar na subsistência de sua família, e mãe. Nesses ambientes de poucos moradores, todos  se conhecem, se ajudam e se confiam. Não há porque não fazê-lo porque todos padecem do mesmo mal... escassez de recursos financeiros, infraestrutura e falta de interesse das autoridades (políticos) que só se dirigem a eles em época de eleição.
Esse rapaz se beneficiou das terras que lhe foram cedidas em boa-fé, sem contrato, sem arrendamento, e, passados muitos anos, retribuiu a generosidade do Sr. Manoel com um golpe de traição.
Ele gozava da convivência com a família, sabia que eram gente bondosa  e de boa fé. Pois se aproveitou disso, e entrou na justiça trabalhista, reivindicando seus direitos, dizendo-se empregado sem estar registrado como tal, e sem remuneração. Nunca tinha sido empregado, nada era escrito,
 Senhor Manoel  ficou espantado com  o ocorrido, mas não deu muita atenção  porque achou um absurdo que a justiça fosse dar crédito para  uma invenção dessas. O tempo foi passando. Alguns filhos de Sr Manoel foram se casando e construindo suas casas, nas terras do pai.      O filho mais velho do Sr Manoel aplicou todo dinheiro de uma   indenização que recebera em virtude de uma demissão trabalhista, na construção de uma casa grande mais confortável, para seus pais. Sua mãe viveu pouco para usufruir da nova moradia.  Os dois irmãos de Sr. Manoel faleceram, mas um deles deixou viúva, filhos e neta em casa própria residindo lá gozando da proximidade dos parentes.
Certo dia chegou na propriedade, um oficial de justiça  dando um ultimato ao Sr. Manoel: Deveria abandonar tudo, porque o juiz havia dado ganho de  causa ao morador vizinho. É claro que o Sr. Manoel ficou assustado e perplexo. Sempre acreditou na justiça, mas simples como era, não se informou que necessitaria  contratar advogados para representá-lo junto ao juiz. Ele achava que se ele tivesse a  documentação regularizada, impostos pagos que atestava a propriedade  das terras, isto bastaria. Com tanto sofrimento e preocupado com sua família que iria ficar sem teto de um dia para outro, morreu vitima de um câncer que o aniquilou em pouco tempo.
O problema persiste até hoje:dezessete anos.
Atualmente existem vinte e sete pessoas, cujas idades variam de dois a setenta e nove anos, que  moram em seis casas distribuídas por essa propriedade e de onde todos tiram o seu sustento.
 Depois do falecimento do Sr. Manoel a família contratou advogados: Um deles, chamado Joacildo da cidade de Solânea PB, pediu uma boa quantia em dinheiro, pelo telefone, para o filho mais velho dizendo que cabia recorrer da decisão do juiz. Depois de algum tempo ficamos sabendo que ele recorreu depois de ter passado a data fixada para tal. Depois abandonou. Como  tudo foi acertado verbalmente, não há como cobrar  a atitude irresponsável, dele.
Outro advogado, foi contratado nas mesmas condições. A confiança prevalecendo.. .Era indicado por José Maranhão, um político muito admirado pela família.
 Levou deles  mais uma boa quantia em dinheiro, prometendo encaminhar o processo  para Brasília e lá resolveria o impasse já que o processo está cheio de falhas. Nada fez. Ele talvez tenha ido à Brasília,se foi, resolver problemas particulares. Os filhos de Sr. Manoel são muito pacíficos, crédulos, acomodados por isso são explorados dessa maneira. Tentaram outro advogado,   Dr. Antonio, Contrato também verbal. Pediu certa quantia para tirar xerox do processo para estudo. Disse também que havia sido eleito prefeito de uma cidadezinha do interior da PB. chamada Dona Inês e que não poderia assinar mais os documentos, petições etc . Ele  garantiu que faria todo o trabalho e sua esposa, assinaria, quando necessário... Como  era de se esperar, também abandonou. Acho que a falta de acompanhamento direto e constante dos filhos do Sr. Manoel, permite que os advogados se desinteressem do caso, sem dar satisfações. A honra e juramentos profissionais já não são como antigamente.
Acredito que haja pessoas inescrupulosas e  interesseiras que orientam o autor do processo. Não é possível que ele, sem conhecimento jurídico, sem capital, venha sustentando esse processo por dezessete longos anos, tendo reaberto outro  em outra data para continuar a infernizar a vida dessas pessoas que nada lhe devem, por mais tempo.
Dia 11 de Dezembro de 2011, apareceu um oficial de justiça, na propriedade, pedindo a todos que se reunissem num só local. Lá estava um ônibus oficial, um caminhão, policiais armados, representantes do prefeito de Borborema, PB. José Renato (REI)  do PMDB com uma ordem para retirar os moradores à força de suas casas .O advogado do autor é o mesmo que trabalha para a prefeitura de Borborema. È claro que o autor do processo não estava presente. Acredito que  ele seja massa de manobra para os verdadeiros interessados. Como era de se esperar: Muitos passaram mal, desmaiaram, houve internação hospitalar, consequência de uma desumanidade dessas. Os próprios funcionários da prefeitura ficaram indignados e constrangidos diante dos fatos. O prazo foi prorrogado por 90 dias  a partir de 11 de dezembro de 2011 para que eles se mudem.  São trabalhadores, gente decente e pacífica não são invasores, não têm passagem pela polícia, no entanto, estão prestes a se tornar indigentes. Vinte e sete pessoas, velhos e crianças ao desamparo, sem teto, sem terra, sem trabalho. Sem saída. Esse é o Brasil que nos envergonha.

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